Economia

Montadoras traçam estratégia para tentar driblar a falta de chips

Uma necessidade urgente é acelerar a transição das arquiteturas eletrônicas atuais dos carros que usam chips mais antigos para os de ponta, sugere Marcus Ayres, sócio-diretor da Roland Berger na América Latina

Para amenizar os gargalos de abastecimento de semicondutores, principalmente num momento de transformação do setor, com a eletrificação dos carros, a indústria pode, no curto prazo, fazer contratos de fornecimento garantido, o que significa pagar mais pelo produto. Uma necessidade urgente é acelerar a transição das arquiteturas eletrônicas atuais dos carros que usam chips mais antigos para os de ponta, sugere Marcus Ayres, sócio-diretor da Roland Berger na América Latina.

Ayres ressalta que até o aquecimento global vai afetar, no longo prazo, a questão dos semicondutores. “São itens cuja produção é extremamente sensível e, se houver um terremoto ou uma tempestade, por exemplo, perde-se todo o processo de produção da ‘bolacha’ (ou ‘wafer’, um dos itens importantes na indústria de chips)”.

Ele lembra que no maior país produtor de “bolachas”, Taiwan, no sudeste asiático, a quantidade de chuvas leves por ano caiu à metade em 100 anos. A água é importante matéria-prima nessa produção. Por outro lado, a intensidade de tufões na região cresceu mais de 10% nas últimas décadas.

“A previsão é de que, até 2040, tenha duas a três vezes mais tempestades tropicais extremas na região, e os riscos de ter de suspender a produção várias vezes são grandes”, afirma o consultor. Por isso, diz ele, a indústria precisa rever o conceito de produção just-in-time, de receber peças apenas no momento de necessidade, e migrar para o just-in-case (no caso de), ou seja, manter estoques de componentes considerados críticos, que, se faltarem, vão parar a produção.

DISRUPÇÃO. Outra estratégia mais disruptiva é fomentar a reciclagem de semicondutores. Por exemplo, em muitos veículos acidentados, inclusive os de perda total, vários semicondutores se mantêm intactos e podem ser reaproveitados em carros novos. Cada automóvel usa de mil (modelo compacto) a 3 mil chips (modelos de alto luxo). Formar consórcios entre várias montadoras para compras conjuntas também é alternativa.

Algumas montadoras já desenvolvem ações para driblar a escassez de itens. O grupo Stellantis, dono da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, vai padronizar os microchips usados nos automóveis. Hoje, cada carro usa diferentes tipos de semicondutores e a ideia é trabalhar com um único em vários modelos.

“A estandardização vai gerar mais previsibilidade para nossos fornecedores e vai tornar nossas encomendas mais competitivas”, diz Antonio Filosa, presidente da Stellantis na América do Sul. Em parceria com a Foxconn, ele pretende criar uma família de semicondutores para atender mais de 80% dos modelos do grupo.

Impacto da falta de chips foi menor em outras indústrias

A indústria de eletroeletrônicos também foi prejudicada pela desorganização nas cadeias produtivas provocada pela pandemia da covid-19. Grande parte das empresas do setor teve dificuldades na aquisição de semicondutores, o que gerou atraso na produção e na entrega e paralisação parcial em algumas linhas de produção.

“Mas não tivemos conhecimento de nenhuma fábrica que tenha paralisado toda a produção”, afirma Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). A expectativa do setor é de normalidade de abastecimento em meados de 2022 ou início de 2023.

Fabricantes de máquinas e equipamentos também registraram atrasos no recebimento de peças com semicondutores, em especial no segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias, “mas nada comparado ao que ocorreu com o setor automotivo”, de acordo com José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Nenhuma fábrica teve a produção interrompida”, diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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