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Cartazes chamam de ‘veneno’ vacinas contra Covid para crianças no interior de SP

Uma mulher foi gravada na madrugada de quarta-feira (9) pelas câmeras de um estabelecimento comercial colando os papéis e entrando em um carro

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Cartazes com informações falsas sobre as vacinas para crianças contra a Covid foram colados em postes próximos a pelo menos duas unidades de saúde em Araçatuba, no interior de São Paulo. As mensagens chamam os imunizantes de “veneno”.

Uma mulher foi gravada na madrugada de quarta-feira (9) pelas câmeras de um estabelecimento comercial colando os papéis e entrando em um carro. O material erroneamente afirma que as vacinas ainda estão em fase experimental, não imunizam e podem causar diversas doenças. Esses argumentos antivacina são repudiados por especialistas.

Foi feito um boletim de ocorrência, e a Promotoria de Juventude e da Infância de São Paulo informou que o caso já foi oficiado à prefeitura –os responsáveis, se identificados, poderão sofrer ação civil pública por danos coletivos à infância e juventude.

Os cartazes foram afixados na região dos bairros Jardim TV e Morada dos Nobres e foram retirados por um morador. Na manhã desta quinta (11), os mesmos informativos já haviam sido afixados novamente no Jardim TV.

A Secretaria de Saúde de Araçatuba diz que os cartazes foram a primeira ação do tipo na cidade e que “não apoia atos contrários à vacina e à ciência.”

A pasta reforça que a segurança e a eficácia dos imunizantes é comprovada e que pais e responsáveis devem levar os filhos para tomar a vacina contra o coronavírus.

Segundo dados do vacinômetro do governo de São Paulo na tarde desta quinta-feira, no estado 54,53% das crianças entre 5 e 11 anos já tomaram a primeira dose.

Para Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de inovação do Instituto Butantan e do CENTD (Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares), pais e responsáveis “têm a responsabilidade de vacinar [as crianças] porque é a forma mais inteligente de proteger as pessoas de doenças infecciosas”.

“Há pouco tempo a gente via 4.000 pessoas morrendo por dia no Brasil [de Covid-19] e isso acabou. Temos ainda [mortes], mas principalmente de pessoas não vacinadas. O reflexo da vacinação é óbvio, o resultado é gigante”, afirma a diretora.

Ela lembra que os imunizantes passaram pelo crivo das agências regulatórias nacionais e internacionais para que fossem aprovados e, por isso, são seguros.

O médico Marcelo Otsuka, vice-presidente do departamento de infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, reforça que as vacinas contra Covid-19 já passaram há tempos da fase de testes.

Ele ressalta que, mesmo antes da liberação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), já havia dados de outros países demonstrando a segurança das doses infantis.
Renato Kfouri, médico e presidente do departamento científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, chamou de “absurdas” as informações propagadas pelos grupos antivacina em casos como o de Araçatuba.

“Achava que aqui no Brasil a gente não veria tão cedo esses grupos antivacina prosperarem, mas no esteio do Ministério da Saúde e do próprio presidente, a gente tem um crescimento entre esses seguidores”, afirma Kfouri.

Para ele, ao dizer que não se vacina e que a filha Laura, de 11 anos, não vai se vacinar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reforça o discurso anticiência.

“É um desserviço enorme para a população fazer propaganda desse tipo. A Covid na pediatria não é desprezível, já vitimou crianças e adolescentes, há dezenas de milhares de hospitalizações. Não há por que você não vacinar suas crianças e dar a elas o direito de proteção contra uma doença potencialmente grave”, diz Kfouri.

“Quem está com medo da vacina, deveria ter medo da doença”, completa.

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